O bloqueio da estrada era na província de Sofala e o Governo Provincial também foi contactado via rádio e informado. Para me resgatarem, aconselharam-me a caminhar ao longo da linha férrea durante cerca de três a quatro quilómetros e um helicóptero seria enviado para me recolher. Rejeitei esta sugestão porque, disse eu, não podia ser resgatado para um lugar seguro deixando os meus quadros para trás.
Entrando em acção, e através de um dos engenheiros da minha comitiva, que era o intermediário [João Godinho], foi considerada uma primeira sugestão de libertar mulheres e crianças, mas tal era inviável, porque afinal mulheres e crianças não estavam em veículos separados, mas viajavam em veículos que também transportavam homens.
A ideia era libertar pessoas sem qualquer valor negocial como reféns, considerando que um ministro do Governo Central era um refém estratégico e de elevado valor.
Efectivamente, os elementos que bloqueavam a estrada tinham acabado por saber, a partir de determinado momento, que um dos seus cativos era um membro do Governo Central.
Foi marcada uma reunião e os chefes do grupo vieram encontrar-se comigo na minha barraca.
Depois de ouvir directamente as suas queixas, sugeri que, como ministro, estava disposto a ficar refém deles de boa vontade, se é que se pode dizer isso, desde que libertassem todos os reféns retidos e que os únicos reféns fossem o ministro e a sua comitiva.
Compreenderam o valor do seu principal refém e estavam prontos a aceitar o acordo. Assim, todos os veículos foram autorizados a partir com os seus ocupantes e só ficou a comitiva do ministro.
O meu passo seguinte foi voltar a sublinhar-lhes que, como ministro, não podia ajudá-los enquanto estivesse retido. No entanto, se me libertassem, assegurei-lhes que poderia transmitir as suas queixas em primeira mão ao Primeiro-Ministro, Dr. Mário Machungo, advogando por eles, e não tinha dúvidas de que o Governo iria trabalhar para lhes prestar assistência, a eles e aos que estivessem em situação semelhante.
Prometi-lhes que seria o seu porta-voz.
Eles compreenderam, confiaram em mim e, com este acordo de cavalheiros, fui autorizado a partir com a minha comitiva.
Eram cerca de 19:15 quando partimos e, enquanto seguíamos para Caia, pudemos ouvir o noticiário das 19:30 da Rádio Moçambique que ainda reportava que o Ministro da Construção e Águas ainda estava detido na estrada N282 em Inhamitanga.
Quando chegámos a Caia, tentei encontrar um operador de rádio activo, em vão. Eu era um rádio amador.
A administração local estava fechada, pois era noite de sábado e o operador de rádio da polícia estava ausente, a atender uma emergência pessoal. Tentei estabelecer contacto, tendo acesso a um rádio de uma ONG, mas ninguém respondeu às minhas chamadas.
Desisti, fui almoçar/jantar num restaurante com a minha comitiva, antes de atravessar o rio Zambeze.